Ampliar a restrição à circulação em São Paulo pouparia mais vidas

Pesquisadores do Insper simularam efeitos das medidas de distanciamento social na mortalidade por Covid-19 no estado.

Simulações de Bruno Komatsu e Naercio Menezes Filho, do Insper, mostram que a maior circulação de pessoas no estado de São Paulo neste momento pode elevar o total de mortes pela Covid-19. O risco existe uma vez que mais indivíduos podem ser infectados ao mesmo tempo, provocando a falta de leitos de UTI para casos graves.

Os pesquisadores do Insper recorreram a uma modelagem usual na epidemiologia, chamada de SEIR, acrônimo para suscetíveis, expostos, infectados e removidos. Por meio de um modelo desse gênero, desenvolvido por um grupo de pesquisadores para o novo coronavírus, a dupla simulou a trajetória da infecção no estado.

O exercício formulou um cenário básico em que não haveria nenhuma medida de isolamento para conter a infecção, além de outros quatro: quarentena até 30 de junho; quarentena até 31 de agosto; quarentena até 31 de maio e lockdown de 1º de junho a 31 de julho; quarentena até 31 de maio e lockdown de 1º de junho a 31 de agosto.

Do ponto de vista do número total de infectados ao final do ciclo epidemiológico, há pouca diferença detectada. Em qualquer um dos cenários, o modelo prevê que em torno de 80% da população paulista de 45,5 milhões de habitantes será contaminada pelo coronavírus até dezembro deste ano. O que as opções testadas de distanciamento social fazem é espalhar de modo diverso a incidência ao longo desses meses.

Como a capacidade de tratar os pacientes mais graves é limitada pela infraestrutura de leitos de UTI disponíveis, as políticas de distanciamento evitam a concentração de casos em poucas semanas, poupando mais vidas. No exercício dos pesquisadores do Insper, as alternativas que estendem ou apertam o regime de restrição até agosto são as que mais mortes evitam, sendo o lockdown a mais efetiva nesse período. De 18 mil a 40 mil paulistas deixariam de morrer nesses cenários, na comparação com o de encerramento das restrições à circulação em 30 de junho.

Komatsu e Menezes Filho fazem alertas para limitações do estudo. Em primeiro lugar, não se sabe ao certo qual é a taxa de contágio básica da Covid-19. Eles adotam uma taxa de reprodução básica do vírus igual a três, com base em estimativas do Imperial College, de Londres. Variações pequenas nessa taxa, da ordem de cinco décimos, significam milhões de pessoas infectadas a mais ou a menos num estado populoso como São Paulo ao fim do ciclo do vírus.

Um segundo limitador é o efeito de outras medidas de proteção, como o uso disseminado de máscaras e a adoção de protocolos de higiene e distanciamento na circulação urbana, que não foram dimensionados no estudo dos pesquisadores do Insper.

Mais informações sobre este e outros trabalhos de pesquisadores da escola estão disponíveis em insper.edu.br/conhecimento.
fonte:assessoria de imprensa/foto abertura DanArt/Pixabay

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